sexta-feira, 14 de março de 2008

Como tratar de nossas entidades ciganas
Os espíritos ciganos são um povo encantado que surgiu, não há muito tempo, entre as entidades de Umbanda. Sua incorporação acontece de uma forma bem mais sutil do que qualquer outra. Os ciganos são um povo nômade, que chegou ao Brasil vindo das mais variadas regiões do mundo, com costumes vários, pois apesar de preservarem sua cultura e tradição como nenhum outro povo, adquiriram também costumes das diversas regiões por que passaram. Como são nômades jamais poderão ser assentados em barro, ferro ou o que for.
É preciso um certo cuidado para não confundir estas entidades com Exu ou Pombogira. Como na maioria das casas de Umbanda não existe um culto específico aos ciganos, eles costumam ser louvados e até mesmo incorporar em seus médiuns durante as giras de Exu, que são as entidades mais próximas a eles, embora os ciganos sejam mais ligados às vibrações dos povos do Oriente. As chamadas Pombogiras ciganas em geral são espíritos de mulheres que foram, quando encarnadas, criadas em alguma família cigana, aprendendo e adquirindo seus hábitos, costumes e tradição, ou talvez alguma mulher amante da cultura e tradição ciganas, embora gadjê (não-cigana). As Pombogiras ciganas podem ser assentadas como as demais, as ciganas não. Algumas pessoas costumam fazer potes ciganos, mas é importante frisar que esses potes são um elemento de prosperidade ou energização para essa pessoa, sua casa ou seu ambiente de trabalho e não um “asssentamento” do espírito cigano que vibra em seu corpo áurico.
Os potes ciganos em geral contêm:
7 espécies de sementes (ervilha, lentilha, semente de girassol, arroz com casca, grão-de-bico, canjica, milho) para a prosperidade
1 cristal de quartzo branco que gera energia cósmica
1 pedra relativa a cada um dos chakras principais (granada, calcita laranja, citrino, quartzo verde, quartzo rosa, água marinha, sodalita ou quartzo azul e uma ametista) para manter o equilíbrio energético
1 pirita para autoconfiança
1 pedaço de âmbar para o amor
7 moedas antigas para gerar bens materiais
7 moedas correntes do mais alto valor para não faltar o dinheiro circulante
7 fitas finas coloridas (exceto preta) para enfeitar o pote
1 pedaço de ouro
1 pedaço de prata
1 pedaço de cobre
1 noz moscada
Os espíritos ciganos são livres e não se deixariam “prender” num pote de barro ou numa vasilha de vidro. Nos centros espíritas onde existe “casa de cigano” ou um cantinho especialmente reservado para eles, aí poderão ficar guardados os utensílios usados por essas entidades como punhais, lenços, taças, baralhos, suas bebidas, mas não “assentamentos” ou potes de energização.
As entidades ciganas normalmente bebem vinho tinto de boa qualidade, mas nada impede que gostem de licores finos ou qualquer outra bebida condizente com sua terra natal, quando encarnados. Da mesma forma poderão fumar, se assim lhes agrada.
Os objetos, comidas preferidas, bebidas e cores de roupas em geral são pedidos pela própria entidade, uma vez que procedem das mais variadas regiões do mundo e assim, podem ter gostos diferentes.
As “giras” de ciganos deveriam ser feitas com a mesma freqüência que a de outras entidades (pretos velhos, caboclos, exus), pois também estão em processo evolutivo e necessitam do trabalho de incorporação junto aos encarnados para tal.
Existem cantigas, compostas normalmente por pessoas que apreciam os ciganos, falando e louvando o povo, mas a música flamenca, árabe e hindu são as que mais se assemelham à dança cigana. O povo cigano tem na dança uma de suas mais vivas e exuberantes formas de expressão, tirando dos passos, dos volteios do corpo, do rodar de suas saias, do meneio de suas cabeças e mãos, uma alegria contagiante e uma vivacidade talvez única. Dependendo de sua origem, algumas ciganas dançam tocando castanholas ou segurando pandeiros enfeitados com fitas coloridas, lenços esvoaçantes, leques ou flores.
As mulheres usam saias longas, geralmente até os tornozelos, numa demonstração de recato e ao mesmo tempo sedução. As blusas não possuem decotes ousados, as saias são rodadas e fartas, usando as ciganas mais ricas várias saias sobrepostas. O colorido é o forte atrativo de suas roupas. Muitas gostam de xales, fitas, rendas, lenços, mas tudo isso deve ficar a cargo da entidade, pois possuem um significado simbólico dentro de cada família cigana. Andar sem calçados também faz parte do misticismo cigano, pois acreditam que esta é uma maneira de descarregar a energia negativa na terra, ao mesmo tempo propiciando a entrada de energia positiva que vem do céu, do Sol, da Lua e das estrelas.
É comum vermos entidades ciganas falando espanhol ou apresentando um sotaque de sua língua natal quando encarnadas; isto é perfeitamente aceitável, mas não obrigatório, não devemos esquecer que, enquanto espíritos de luz, conseguem perfeitamente adaptar seu vocabulário ao da terra onde estão.
A idéia de que temem o mar é uma perfeita bobagem. O povo cigano também reverencia a Mãe Janaína no dia 31 de dezembro e muitas entidades ciganas pertencem ao elemento água e à falange de Iemanjá. Muitos trabalhos de magia são feitos nas águas do mar e entregues à Iemanjá para que tome conta. Os ciganos respeitam e reverenciam os quatro elementos (terra, água, ar e fogo), cultuando seus respectivos elementais.
As oferendas às entidades ciganas podem ser entregues numa estrada de terra (via ascendente, nunca descendente), num descampado, na mata, na areia da praia ou numa praça central da cidade onde circule grande número de pessoas e haja lojas de bastante movimento e estabelecimentos bancários, dependendo do objetivo. O horário ideal para se fazer oferendas é de manhã bem cedinho ou entre dezoito e vinte e três horas. Em assuntos de negócios, quando o local preferido é a praça, a oferenda deve ser entregue durante o horário de movimento. O melhor período para estas oferendas é entre o quarto dia da lua crescente e o quarto dia da lua cheia, quando existe o máximo de energia lunar, yin, intuitiva, doadora de prosperidade, fartura, amor e realizações.
Cabe lembrar que, seja para comemorar o que for, não se sacrifica animal para as entidades ciganas; eles apreciam a carne, não o sangue.

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