sexta-feira, 14 de março de 2008

CIGANO DAMIANI

Pietro Damiani era o seu nome

Filho de saqueador espanhol, que numa de suas estadas pelo Brasil, conheceu uma brasileira muito bela e a levou para a Espanha. Seu pai era devoto de San Martín, que tirava dos ricos e dava aos pobres. Num desses saqui atingido por uma flecha que paralisou o lado direito de seu corpo.
Envergonhado, por ter sido um grande e respeitado saqueador, trabalhando inclusive para a Coroa Espanhola, resolveu se refugiar para não mais ser encontrado. Foi para o campo ficar em contato da natureza para tentar se redimir de seus pecados, segundo ele através de uma mensagem de San Martín.
Lá chegando fundou uma aldeia, composta por mutilados de guerra, presos, refugiados, e suas famílias. Passaram a acreditar nos ensinamentos de seu pai, e numa assembléia definiram os afazeres da aldeia, de acordo com as habilidades de cada um.
Uns lidavam com cobre, outros com ervas, outros com cristais, etc. Após alguns anos seu pai recuperou parcialmente os movimentos, e sua mãe engravidou. Damiani nasceu em uma linda noite de lua cheia.
Seu pai, tomando-o pelos braços, dizendo que ele não teria o mesmo destino de outros ciganos (pois era assim que passaram a ser chamados), que eram normalmente decapitados, ou mortos por punhaladas.
Seria ele um chefe de aldeia e morreria de velhice. Damiani cresceu, aprendendo todos os fundamentos com seu pai. A esse tempo, todos na aldeia já tinham adquirido alma cigana. Em uma de suas viagens seu pai encontrou verdadeiros ciganos, de alma e sangue, que resolveram unir-se a eles, formando assim um grande clã. Nessa aldeia conheceu Carmem, e se interessou por ela.
Seu pai veio a falecer em uma emboscada armada por um homem, cuja esposa havia presenteado-o (seu pai era um homem atraente e atraía a atenção das mulheres), e um cigano da mesma aldeia de Damiani, que foi pago para executar o serviço.
Ele, por ser o primogênito, assumiu a chefia da aldeia, gerando a insatisfação do cigano que era chefe da outra aldeia que juntou-se a de Damiani.

Por respeito a esse homem, Damiani nominou-o como Pablo, não sendo, porém, seu verdadeiro nome.
Pablo era bem mais velho, e começou a criar intrigas na aldeia. Em um dia de festa na aldeia, com muito vinho, frango, danças, Damiani pediu autorização à sua mãe para casar-se com Carmem, e ela concedeu. Realizaram então, a cerimônia de noivado, que entre o povo cigano é um pacto de sangue feito na palma das mãos (no casamento o pacto de sangue é feito nos pulsos).
Revoltado por Carmem não ter escolhido seu filho e ter se entregado de corpo e alma a Damiani, Pablo tomou o cálice de vinho das mãos de Damiani e lhe disse que assim como cigano não pede, ganha, seu filho seria um dia o chefe daquele clã. Damiani não tomou como ofensa. Já havido todos bebido demais, resolveu encerrar festa. Sabendo ele que só poderia casar-se com Carmem quando ela atingisse a maioridade, que era aos 21 anos, resolveu esperar essa data, em respeito aos costumes da aldeia de onde ela provinha. Ela contava na época com 15 anos, e ele com 21. Deveriam esperar então 6 anos.
Durante esse período a sua aldeia foi acumulando muitas riquezas, e isso gerou intrigas entre os ciganos. Usava os ensinamentos de seu pai para tentar manter a ordem. Durante esse período, Damiani notou que uma cigana da aldeia que o observava desde pequenino, havia sumido. Em um de seus passeios, Carmem foi banhar-se em um rio próximo da aldeia, quando não percebeu que a correnteza a levava. Damiani pulou no rio para salvá-la, e ao sair, viu o rosto da cigana que sempre lhe observava, e que havia sumido da aldeia. Retornando à aldeia Pablo disse a todos que aquele acontecimento fora um aviso de que algo ruim aconteceria a Damiani, o que lhe deixou pensativo, pois algumas vezes Pablo acertava em sua premonições.
Passaram-se então mais alguns anos (em que Damiani aprendeu a ler mãos, cartas, enxergar através da água, ter intuições), Carmem já quase atingindo a maioridade resolveu, em um dia de primavera, ir buscar flores no rio.

Novamente, ao tentar alcançar uma flor, caiu no rio. Damiani salvou-a e a levou para a aldeia.
Porém, lá chegando, teve um pressentimento que se voltasse para pegar a cesta de flores que ela havia recolhido, seu casamento não daria certo. No caminho sentiu que alguém lhe observava. Chegando no rio, resolveu apanhar também a flor que Carmem tentara pegar, sem sucesso. Caiu ele também ao rio, e ao se escorar para salvar-se, sentiu uma ardência em sua perna. Percebeu que tinha sido picado por uma das cobras mais venenosas que havia na região. Sentiu que duas pessoas o observavam e gritou por socorro, quando começou a pensar que seu pai estava errado no que falara ao seu nascimento.
Foi quando apareceu Pablo e lhe estendeu a mão para salvá-lo, tirando-o da água. Vendo que já estava fraco e não conseguiria andar, pois já estava sob o efeito do veneno, colocou-o de pé, segurou suas mãos, tirou-lhe o anel e o medalhão que eram de seu pai e disse-lhe que seria novamente o chefe da aldeia. Deu uma gargalhada e empurrou-o para dentro do rio, quando então, Damiani sentiu uma mão que o tirara do rio. Meio desfalecido e com muita dificuldade, abriu seus olhos e viu aquela cigana que lhe observou durante anos.
Ela era na verdade uma feiticeira que por opção própria se ausentara da aldeia, auxiliando-os porém de longe, em casos de doenças. Mas nunca aparecia diante de ninguém. Se de seus remédios necessitavam iam à floresta, faziam seus pedidos em voz alta, e retornavam no dia seguinte para apanhar o remédio, que era sempre colocado em uma pedra
Essa cigana tratou de Damiani durante 3 meses, os quais manteve-o entorpecido e sob tratamento do veneno da cobra. Após sua recuperação, ele voltou à aldeia.
É importante salientar que durante esse período ele não manteve contato com a cigana. Nem ao menos teve a certeza de que alguém cuidou dele.

Chegando na aldeia descobriu que Carmem havia se envenenado, pois Pablo, que assumira a chefia da aldeia, queria obrigá-la a casar-se com seu filho, e ela não aceitando isso, resolvera fugir. Foi capturada e levada de volta para a aldeia, mas “se não podia ter Damiani, preferia a morte”. Damiani reassumiu a chefia da aldeia, e nunca casou-se. Morreu aos 70 anos de idade, quando inacreditavelmente, o veneno da cobra fez efeito em seu organismo. Sua missão havia findado.

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